A volta da construção

Trabalho manualEngraçado como isso me soou um tanto retrô. Você também percebeu isso? Em alguns (muitos!) assuntos, sinto que sempre há uma “volta” a alguma coisa ou a algum comportamento. Talvez seja algo cíclico mesmo, aquela busca do equilíbrio, nem tanto para lá ou para cá, nem 8 e nem 80. Hoje vamos falar sobre construir. Criar algo, dar forma, vida, existência. Real ou virtual? Não sei.

Quando entrei na faculdade de Design, eu tinha muitas dúvidas entre a especialização em Design Gráfico ou de Produtos. Naquela época pensava no que ia ser mais divertido, o que me ofereceria mais desafios. Vi que ambas atendiam o que eu procurava. Mas algo ainda me incomodava, não estava muito claro o que faria uma ou outra. Muitas conversas depois, com amigos, professores, profissionais das duas áreas acabei fazendo minha escolha: Design de Produto. E na época não tinha percebido o que me levou a escolher essa profissão. Mas, com certeza, hoje, olhando para trás, faz total sentido para mim.

Colocar a mão na massa, literalmente. Argila, madeiras, plásticos, lápis, tintas, massas de modelar, lixas, martelos, pregos, papéis, serras e tantas outras ferramentas que não apenas o computador. Não que o Design Gráfico não possua técnicas de construção manual, que fique bem claro. É que para mim, aquilo era diversão pura. Quase todo dia tínhamos aulas nas oficinas, repletas de máquinas, materiais e mentes criativas por todos os lados. A cada molde, corte, camada de pó, algo ia surgindo, bem ali, na sua frente. O que mais eu queria? Estava dando vida a um monte de material cru.

Também tínhamos softwares 3D que nos auxiliavam em construções de moldes complexos e nos preparavam para trabalharmos com produção e industrialização. Ainda assim, não se comparavam aos modelos que criávamos nas boas e velhas oficinas. Lembro bem da construção do nosso produto final, para ser apresentado como trabalho de conclusão do curso. Noites a fio para construção dos modelos virtuais, mas nada mais divertido e trabalhoso como a criação do modelo físico. Não há comparação.

Caso ainda não tenha conseguido imaginar essa experiência, talvez um exemplo mais comum ajude. Você alguma vez, quando era criança (ou depois, mais velho, também vale!) brincou com Lego ou qualquer brinquedo similar? Chega a lembrar daquela sensação… A de dar forma, criar uma coisa nova, peça por peça? Se estivesse estranho, tirava uma peça daqui e outra dali, trocava a cor, o tamanho? E pronto! Ali nascia um carro, uma casa, um dinossauro, um robô, ou qualquer coisa que você tivesse imaginado. Lembrou? Infelizmente, poucas crianças conseguem ter, hoje, esse prazer. Muitas vezes o Lego vem com algum tema ou algum formato mais específico, com poucas possibilidades de invenção. Uma pena.

Atualmente, trabalho com experiência do usuário e arquitetura da informação, realizamos muitos projetos de interface digital. Os projetos virtuais são tão complexos quanto os modelos físicos da época da faculdade, não se deixe enganar pelas características digitais. Porém, diversas vezes sinto falta de algo. Uma ausência de algo mais tátil, sabe? E isso é o que está perambulando pelos meus pensamentos atualmente, se assim posso falar. Por isso a ideia de escrever este post. Ainda não encontrei uma resposta para essa questão.

Talvez seja que, em meio a tanta tecnologia, precisamos ainda do concreto, em nossas mãos.

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